terça-feira, 27 de abril de 2010

Resultado da Votação: Banda dos Sonhos do Rock Brasileiro

Já faz algum tempo que eu e o Rodrigo encerramos a enquete sobre a banda dos “sonhos” do Rock Brasileiro e, sendo assim, o resultado já foi divulgado no blog dele e pode ser visto aqui, e agora eu faço o mesmo no meu blog. Os critérios que utilizamos, primeiro, foram nossos gostos e memórias pra listar os candidatos nas categorias vocalista, guitarrista, baixista e baterista. Selecionados os candidatos, em seguida enviamos a nossos amigos uma “cédula” onde eles deveriam votar em três candidatos em cada categoria, que seriam pontuados de acordo com sua colocação. A votação seguiu exclusivamente os gostos e conhecimento musical dos votantes.

Então, sem mais delongas a relação dos vencedores:

Em primeiro lugar:

Renato Russo (voz)

Edgard Scandurra (guitarra)

Humberto Gessinger (baixo) 

João Barone (bateria)

Em segundo lugar:
Cazuza (voz), Pepeu Gomes (guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e Bacalhau (bateria);

E em terceiro lugar:
Humberto Gessinger (voz), Lobão (guitarra), Champignon (baixo) e Charles Gavin (bateria).

A análise que faço dentre os eleitos é a supremacia dos músicos cujas bandas que surgiram e tiveram seu auge na década de 80 e me remete à questão sobre o esquecimento da música de qualidade no Brasil e o destaque que se dá às bandas de modinha e sem expressão.
Na minha opinião, depois da “revolução” capitaneada pelos Mamonas e pelas letras dos Raimundos, o rock brasileiro emburreceu e ficou preguiçoso, trabalhando em cima de fórmulas prontas e inexpressivas. Mesmo que analisemos o contexto histórico do País, em 1980 estávamos saindo da ditadura, vivíamos sob uma inflação demoníaca e o Brasil era um País completamente endividado. Já a partir de meados da década de 90 o Brasil começou a entrar nos trilhos e com isso parecia não haver mais nada a ser questionado publicamente, principalmente por não mais haver censura como nos tempos da ditadura. Temos sim, músicos de alto calibre técnico, de pegada, feeling, mas cujas palavras proferidas não impulsionam uma revolução ou ao menos deixam o ouvinte arrepiado de prazer ao ouvir determinada banda. É certo que o “boom” causado pelos Mamonas foi incomum e especial – e, eu mesmo gosto das músicas deles – mas ali foi aberta a porta que esteve por tempo demais fechada pela censura e então, atrás deles vieram outros, cada qual com sua bandeira... legalização das drogas, os manos que vivem nos morros e escrevem cartas na prisão. Tudo realidade que realmente precisa ser dita. Cada qual dizendo à sua maneira, mas a segmentação que ocorreu aí foi tão grande que o rock perdeu o sentido.
Enquanto o BRock era somente BRock tínhamos as bandas que lotaram essa nossa eleição. Após isso, é difícil encontrar em meio a tantas bandas uma que realmente valha a pena ser escutada.

Isso tudo é visível entre as bandas dos sonhos pelo o fato de os dois vocalistas (Renato Russo e Cazuza) já terem morrido! Ou seja, recentemente não houve um cantor com tanta expressão e que marcasse tanto quanto eles. E, como o Rodrigo colocou no post dele, a primeira colocada, mesmo sem a presença de Renato Russo já seria uma banda e tanto, que valeria demais a pena ver ao vivo, uma vez que tanto Gessinger quanto Scandurra são excelentes vocalistas! No entanto a combinação Gessinger + Lobão em terceiro lugar seria um conflito de estrelas, pois um certamente iria querer ofuscar o brilho do outro, seria talvez a combinação Caetano Veloso + Gilberto Gil do rock. Bons sozinhos, um porre juntos... intelectuais demais! Quanto aos membros da segunda colocação creio eu que seria uma apresentação carregada de suíngue, levadas mescladas e muito improviso, e também que o Cazuza talvez não fosse o melhor para acompanhá-los, mas sim o Tim Maia!

Interessante notar também a presença de 2/3 dos Paralamas do Sucesso e o frontman não ter aparecido. Embora o Herbert Viana ainda seja um tremendo guitarrista e músico, muitas pessoas com quem converso tem um pouco de preconceito quanto ao Paralamas por ser cansativo, e em outras ocasiões me disseram achar que a banda tem pouca pegada, que raramente surge deles uma música forte, e que sempre investem em músicas mais lentas.

Mas é aquela coisa... gosto não se discute e, mesmo sendo uma eleição fica difícil agradar a todos, ainda mais quandos outros votam e eu (e o Rodrigo) ainda expomos nossos pontos de vista sobre isso. Não somos experts no assunto, mas com base no nosso conhecimento, temos um pouco de argumentos para embasar nossa discussão!

Em breve, vamos publicar um podcast sobre esta eleição!

Abraços,
aureliomasr

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Liberdade da Auto Ajuda, Fundamentos Sobre Amizade

Não. Eu odeio livros de auto-ajuda, esses que vendem milhões de cópias e só ajudam a enriquecer os autores. Corro léguas d'O Segredo, e ainda mais dos sanguessugas que sucedem, por exemplo, "Ana Maria Braga explica o Segredo". Porra... uma mulher que conversa com uma marionete de papagaio, fantasiada de Madonna  a manhã inteira... que moral uma pessoa dessa tem pra me ajudar?

Ponto. Não é sobre isso que eu quero falar.

Posso estar sendo repetitivo... talvez já tenha falado sobre isso aqui, mas tanto eu, quanto as pessoas em geral, não aprendem...

Parágrafo.

No decorrer da nossa vida, temos a tendência de ajudar ao próximo, com ombro, dando ouvidos, conselhos, ou um copo de cachaça. Eu sou do tipo que conversa, dá atenção, escuta e tenta dar muitos conselhos. E dificilmente eu recorro a esse recurso, pois, como disse num texto de uns dias atrás, eu me dou bem com a minha solidão. E assim, eu me auto-ajudo. No entanto, algumas vezes pessoas que têm algum tipo de pressentimento me abordam, se dizem preocupadas e eu digo que está tudo bem. Às vezes realmente está... se eu não estiver bem, dependendo de quem me perguntou, eu não dou andamento no assunto. Minha vida é fechada para certas situações e pessoas. 

Mas uns dias atrás me aconteceu uma coisa que me deixou muito decepcionado com uma pessoa, recorrente nos meus texto, um amigo meu. Conversávamos numa boa quando ele me disse que estava preocupado comigo, por motivos diversos. 

Eu estava. 

Sabendo que não sou muito de falar, ele respondeu: quer conversar a respeito?

Antes de eu falar "sim", ele já estava despejando os problemas dele na minha cabeça. Eu tentei voltar ao ponto inicial - meus problemas -, sem sucesso. Ele simplesmente não me deu ouvidos... é como se ele estivesse digitando de cabeça baixa. 

E comecei a refletir em que ponto as amizades são realmente amizades. Em que ponto nós deixamos de ser muletas? Onde vamos nos apoiar? E atualmente eu ando numa condição cada vez mais intensa de selecionar companhias. Aquelas que me transmitem boas energias. Não onde eu tenho que me apoiar, mas que em várias situações se mostraram disponíveis.

Em contrapartida, existem aqueles que acham que estamos à disposição deles, para todas as horas... mas, se você sente que seu mundo não é mais o mesmo de antes, e que certas coisas não cabem na sua vida como caberiam anteriormente, as pessoas têm que respeitar e aceitar. Do contrário, faço o que tenho feito. Me afasto.
É uma pena, mas a vida é assim mesmo. Triste é que somos julgados, não somos escutados e ainda assim aqueles que não olham para nós esperam que tenhamos a mesma atitude de outrora. É somente "venha a nós". Nada em troca. 

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Banco Vazio

Há uns bons 9 anos iniciei minha carreira de vestibulando. Morava em Guaratinguetá, interior de São Paulo e fui estudar no Anglo, numa sala com mais 144 desconhecidos. Outros 5 eu conhecia de vista. No entanto, em meio a essa multidão, todos os dias eu me sentia sozinho, desgarrado e a prova disso era analisar o mapa da sala.

Visualize um auditório, com três seções de cadeiras. Eu me sentava na coluna do meio, na cadeira da ponta do corredor, e ao meu lado esquerdo, mais umas dez cadeiras. Dia após dia estas cadeiras ficavam todas vazias. As pessoas, passavam, olhavam as cadeiras vazias, olhavam pra mim e continuavam a subir, afim de se sentar nas cadeiras mais ao fundo da sala. Ou simplesmente voltavam e se sentavam mais à frente.

Eu me sentia mal com aquilo. Mas com o tempo não mais me preocupei, afinal, sozinho eu estava, sozinho eu ficaria. Um ano depois eu estava em situação oposta. 9 anos depois, embora longe daquilo tudo, estou cercado por boas pessoas, ótimas pessoas e outras pessoas. Não me importo mais o quão longe ou perto elas estejam ou qual tipo de interesse elas têm em mim.

A mim, só importa fazer o bem a elas. Mesmo que eu me decepcione e elas não façam o mesmo por mim, ainda assim estarei fazendo o que achar melhor para aqueles que estão perto de mim.

Mas o banco ao lado, muitas vezes continua vazio e, esta semana observei no ônibus de estudantes que utilizo para ir ao conservatório que a situação se repetiu e, o banco a meu lado ficou vago. Usei-o para esticar minhas pernas, afinal num único banco vazio não caberiam meus amigos e amigas, não sentariam juntas as pessoas pelas quais tenho carinho. Nem mesmo as dez cadeiras de anos atrás, lá do cursinho comportariam os melhores, os bons e os "só" amigos. Devaneios à parte, me coloquei de volta no ônibus, cuja maioria de passageiros é nada mais que pré-vestibulandos, com a mesma faixa etária que eu me encontrava 9 anos atrás. E haviam pelo menos três pessoas com seus bancos ao lado vazios. Enquanto nos outros havia conversa risos, nos bancos solitários havia retração, fones de ouvido, cabeças baixas e olhares perdidos na água da chuva que escorria pelos vidros do ônibus. Por uma destas pessoas eu tenho uma certa afeição, converso constantemente, tenho como uma amizade próxima. E ela estava sozinha (sim, é uma mulher, mas não quer dizer que estou mal-intencionado). Fiquei observando os trejeitos, as expressões e praticamente senti que se eu (ou qualquer pessoa) sentasse ao lado dela não seria a melhor opção. Por quê?

Simplesmente por se sentar, a pessoa vai sorrir ao ver que alguém irá lhe fazer companhia. Mas e se ela não estivesse afim de companhia, ou poderia pensar "sentou aqui só porque estou só". Seria uma felicidade plástica, indiferente. Seria só um momento e talvez, um momento não fosse o suficiente... Talvez um oi não seja suficiente.

Eu precisaria de mais. Eu sozinho no meu banco de cursinho há 9 anos atrás precisava de amigos, de muitos amigos. Eu 9 anos depois não preciso de um banco vazio.

Tenho meus amigos e por estranho que pareça, meus melhores momentos acontecem quando estou sozinho tendo ideias.

Amo minha vida e meus amigos.
No entanto, me apaixono dia após dia pela solidão.

aureliomasr

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Moeda Tem Dois Lados e a Gaveta Um Fundo.

Final de mês todo mundo normalmente está duro. Duro de dinheiro ou de tesão. Assim estava um dia, bem no último dia do mês de março de 2010. Este foi marcado por um conselho que, pra ele, a princípio pareceu fútil, pois horóscopo é conveniente com seu humor. 

E ele estava num péssimo dia.

E seu horóscopo on-line, via Folha de S. Paulo dizia: 

"Quer tal encerrar março com uma quebra na rotina? Os astros conspiram pra que você mude um pouco hoje, faça algo novo, imprevisto, que não faz parte da programação. Aprender a ousar, a ser diferente, a fazer de outro jeito são alternativas boas pra você ir ainda mais longe."

Ele ficou intrigado com qual seria o ritual. Se deitar no escuro ouvindo Radiohead? Acender seu narguilé e assistir aos DVD's do Woodstock que ganhara de presente de aniversário no ano passado? Ver Friends? Navegar nas possibilidades do MSN? Imprevisto? Qual imprevisto?

Respostas erradas. Embora ele tenha assistido Friends e feito contatos no MSN.

Logo no início da noite, ele recebeu um email onde era friamente informado que em alguns dias receberia uma encomenda. Uma devolução na verdade. Chinelos, toalha, cobertor, CDs, um certificado de faculdade. Coisas que se esquece, ou que pra ele não são tão importantes quanto julgou que fosse para quem os devolveu. Foi aí que seu dia terminou e com ele, tudo que acontecera. 

Eis o imprevisto previsto pelo horóscopo, conivente com a situação e incoveniente com o humor dele.

Então, face ao imprevisto. Ele ousou. Em resposta ao email, não desejou mal, não é do seu feitio. Apenas desejou ao remetente e a toda raça humana (em destaque, ele excluiu daí, os mortos, que nada têm a ver com isso) somente "o básico". E a si mesmo, desejou o melhor. Enquanto ele delineava o email com palavras que permeavam o limite da sua paciência e outras que apaziguavam e ao mesmo tempo atenuavam suas impressões ou falta delas. Ele estendeu a mão e abriu uma gaveta. Ironicamente, tudo ainda estava ali. Até certa hora, por fé, esperança. Depois, por puro esquecimento. As marcas, os cheiros, palavras e imagens escondiam o fundo daquela gaveta que outrora guardara remédios, cigarros, porta-copos e afins. 

Com a angústia de meias palavras frias e outras gélidas, seu ritual foi encontrar o fundo daquela gaveta. E sim, ele limpou a gaveta. Tirou tudo que não lhe interessava mais, deixando apenas o necessário para homens como ele: óleo de massagem, kama sutra e alguns jogos. 

E ali estava o fundo da gaveta, marrom, quase negro.Mas a gaveta enfim, estava vazia. Onde restaram elementos que somente preenchem o vazio de uma vida vazia. Contraditório...

O que ele tirou simplesmente fez parte do que ele luta para superar. Ou não mais irá se preocupar. Dando continuidade ao ritual, ele analisou minuciosamente cada elemento que ali estava, encaixando-o em seu devido espaço no tempo, em sua devida cronologia sentimental e tudo que ali estava envolvido. Palavras ousadas. Ora frias. Um lado da moeda até então incompreendido por ele. Todas as respostas para todas as perguntas, estavam ali, do seu lado o tempo todo. Era só esticar o braço. 

No entanto, ele fechou os olhos, o corpo, a alma e o coração. E ficou do outro lado da moeda. 
Ele se fechou, para nunca mais voltar.

Hoje embora um tanto quanto tarde, eu consegui entender a presença dela na minha vida, ao me acompanhar e lutar junto comigo, face às minhas dificuldades e às quais eu simplesmente transferia a ela, enquanto ela queria me salvar. E assim, as duas faces da moeda nunca se olharam, e nunca ficaram no empate, um dos dois lados teria que levar vantagem.

Hoje embora um tanto quanto tarde, eu consegui entender que para esquecer, não importa quem tenha errado, é preciso um pouco de irritação. Um pouco de aversão. Esperar não deixa que ninguém esqueça do passado. 
E assim, eu pude ver novamente o fundo da minha gaveta, livre e incoerente.

Marco Aurelio.
aureliomasr.
Simplesmente, "ele".