terça-feira, 21 de abril de 2009

Uma voz que não canta.

 
Este texto é dedicado àqueles levam a vida somente a sério. E mais nada.
 
Todos os dias Paulo acorda no mesmo horário. Dorme, provavelmente, no mesmo horário se seus compromissos deixarem. Se seu ego profissional assim o permitir. E, entre acordar e dormir, todos os faz praticamente as mesmas coisas. Cuida do seu corpo, da saúde às vezes se esquece. Paulo trabalha em uma empresa, que, é regida por suas coordenadas. Ele não é um mau liíder. Direciona adequadamente e orienta bem seus subordinados, tem muito conhecimento, afinal, quinzenalmente ele estuda aos finais de semana em outra cidade. Ele não é um pai ou marido ruim. Pode ser ausente, mas acontece, já que sua vida é guiada pelos seus anseios e compromissos profissionais. Se sobrar um tempo, uma vez ou outra, toda a familia viaja junta,  para algum lugar diferente, exótico ou chique. Se sobrar um tempo. Dinheiro não falta.
 
Entre um telefonema e outro, atarefado, Paulo segue sua rotina. Lê seus e-mails, participa de reuniões e articula estratégias da empresa. Falta um tempo para ele. Sua alma. Sua saúde.
 
Falta uma alegria. Pergunte-o se ele está alegre e ele perguntará "porquê?". Pergunte-o se ele está feliz e ele dirá que está satisfeito.
 
Falta tempo para sorrir. Para contar uma piada. Para cantar uma canção. Tudo que Paulo fala são números, valores, prazos, negociações, planejamentos. Não que ele seja chato. Nem que ele se ache repetitivo ou obcecado com trabalho, imagina. Mas, qual a graça da vida em levá-la somente á sério? Não se ter um tempo para sorrir, e que não seja aquela risada forçada para rir da piada de um cliente ou fornecedor. Soltar um sorriso cúmplice, num daqueles momentos de raríssima inspiração e troca de olhares o qual sabemos o que quer dizer, e nem é preciso responder com palavras.
 
Quando foi a última vez que ele deu gargalhadas por um motivo imbecil? Quando ele chorou de rir ou de emoção? Isso já aconteceu?
 
Como será a alma de Paulo? Qual o peso ou a cor da alma dele? Como ela ficará, quando não houver mais trabalho para ele? Telefonemas,  e-mails, visitas e viagens.
 
Muitas vezes eu já me peguei pensando que não devo ser tão risonho e expansivo onde trabalho. Mas, não tomo o trabalho como o motivo de viver. Ele nos ajuda a viver. Mas nosso motivo de viver é nossa família, nossos amigos. Nossa possibilidade de deitar numa rede sob um céu estrelado, dar-se o direito de não se preocupar com nada, pensar em problemas quando a "chavinha" que está em nossa cabeça virar para a posição "trabalho". Alegar que o trabalho é o sustento da família é um meio cada vez mais óbvio de justificar sua ausência. Não podemos deixar nunca de cumprir nossas obrigações, sejam quais forem, mas não podemos jamais deixar nossa família em segundo plano. Nenhuma viagem de final de semana, nenhum brinquedo ou roupa substitui o calor e conforto de um abraço, de andar de mão dadas ou empurrar uma bicicleta na primeira volta da vida de seu filho. E aí sim, ter inspiração em se dedicar, com afinco e determinação em cumprir as metas.
 
Mas não deixe de se dedicar a cantar com desafino e alegria uma canção junto aos filhos, filhas, esposas e maridos.
 
Não ponha sua vida em segundo plano.

boa semana
aureliomasr

Um comentário:

Rodrigo Fonseca disse...

cara... assino embaixo desse texto seu! exatamente igual ao que penso! jah tomei ateh rabada no trampo por ser "descontraido" demais! :D