segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu e ele.

Quando nos encontramos pela primeira vez foi mágico, e estranho. E inesperado. Nós não nos conhecíamos, nunca tínhamos visto um ao outro antes. Começou muito rápido... Suas mãos deslizavam nas minhas formas ainda meio tenso, sem jeito e fomos nos conhecendo melhor, nos aproximando cada vez mais, ficando mais íntimos. Ele conhecia cada detalhe de mim, cada volta, até mesmo minhas variações mais intensas... sabe aquela hora onde está tudo indo muito bem e depois vem uma reviravolta, quase uma revolta?
Então...mas nada disso abalou nossa relação, éramos sempre como um só...estávamos sempre juntos e nos sentíamos os melhores. Se não tiver emoção, uma mudança, um ajuste, um improviso, coisa de momento, a relação fica sem tempero. Eu sei no meu íntimo que houveram outras antes de mim, e que certamente haverão outras. Mas enquanto estivermos juntos, enquanto ele me tocar, sei que serei sempre a única. Aquela que fez alguma diferença, que aprendeu e ensinou o que podia pra ele.
À medida que nos aproximávamos mais, chegou o dia dele me apresentar a seus amigos. A aprovação dos companheiros, dos irmãos é sempre muito importante. Imagina se eles não gostam de mim? Qual terá sido o meu valor? Toda a dedicação, nossa aproximação... nossa intimidade naqueles momentos onde ele achava que eu não iria a lugar nenhum com ele... Teria sido em vão. Teria?
Mas seus amigos gostaram de mim! E adorei conhecer todos eles! Passamos a sair todos juntos, sempre nos encontrávamos, íamos a lugares juntos e era aquela festa! Por eu ser a mais nova entre eles, todos se divertiam quando me conheciam... Certo que nas primeiras vezes o público reagia com estranheza quando me ouvia, afinal, muita gente tem medo do novo...acha que não vai dar certo, que ele estava tomando direções erradas... Afinal, ele já tinha anos de estrada e eu estava só começando nessa vida. Mas eu não tinha medo. Estava ali com ele... com aquele toque e aquela pegada que só ele sabia ter, como me tocar nos momentos certos, mesmo sabendo que algumas vezes eu poderia oscilar, mudar...e ele já sabia onde eu ia mudar. E como cuidar de mim pra que não houvesse nenhum problema entre a gente, e também com sua banda.
O mundo tinha que saber que eu existia, e para tanto, ele moldou nossa relação. Deixando seu toque cada vez mais perfeito. Nossa estrutura inabalável. E principalmente por minhas palavras serem sempre as suas. Minhas ações eram um reflexo do seu pensamento mais profundo. Eu o conhecia por inteiro...sabia o que ele queria e o que ele pensava. Do mesmo jeito que todas as outras que vieram antes de mim. Mas nunca me importei, sempre soube do meu lugar e da minha importância. E, depois de tanto tempo nos conhecendo, era a hora de oficializar nossa relação. E como de costume, seus amigos, agora meus irmãos que já sabiam como lidar comigo, também estavam lá.
Eu tremia de medo... Será que é mesmo a hora? Estou realmente pronta pra isso? Cheia de
incertezas na minha cabecinha... Lembrando de todos os nossos momentos juntos... Como quando ele me tocou a primeira vez, senti como se eu estivesse nua, crua, ainda imatura por vezes. Mas agora, eu já havia me tornado adulta, cada vez mais produzida...ele sempre pensando nos mínimos detalhes...aqueles pequenos detalhes que sempre fazem a diferença.
Eis que entramos em estúdio. A banda toda, ele e seus amigos, me gravaram. Com afinco, dedicação por horas a fio. Trabalhando em mim, me deixando cada vez melhor. E algumas semanas depois eu já estava pronta para ser apresentada ao mundo todo. O lançamento do CD foi um sucesso! Todos queriam me ouvir...e eu sabia que era especial pra eles, pra mim, para seus fãs. Quando me encontrei naquele lugar, percebi que eu não era mais a primeira...haviam umas cinco ou seis antes de mim.
Quando eles saíram em turnê percebi qual era realmente meu lugar.
Quando eles gravaram um álbum duplo e ao vivo minha ficha caiu.
Eu era apenas mais uma. Um lado B melhorado. Fui apenas mais uma que nunca mais foi tocada do mesmo jeito quando nos conhecemos.
Sinto tanta falta daquelas mãos em mim, num quarto escuro madrugada adentro... me acariciando as formas, lapidando nota a nota... Sinto tanta falta de quando éramos só nós dois e seu violão.
Dedicada a todas as boas músicas gravadas, mas nunca tocadas ou lançadas num CD ao vivo.
 

2 comentários:

Rodrigo Fonseca disse...

po, muito bom! eu comecei achando que era um instrumento, dps me liguei que era uma música!
mto bom mesmo!

Receitices disse...

Fantástico!! Também comecei imaginando... que era um instrumento. Depois que me liguei que era sobre uma música, deu arrepio!! Dependendo de como vc escrever o seu livro, vc poderia colocar este texto, de alguma forma, numa introdução. Quisera que essas músicas fossem tocadas por aí ;)

Valeu Marco!