segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu e ele.

Quando nos encontramos pela primeira vez foi mágico, e estranho. E inesperado. Nós não nos conhecíamos, nunca tínhamos visto um ao outro antes. Começou muito rápido... Suas mãos deslizavam nas minhas formas ainda meio tenso, sem jeito e fomos nos conhecendo melhor, nos aproximando cada vez mais, ficando mais íntimos. Ele conhecia cada detalhe de mim, cada volta, até mesmo minhas variações mais intensas... sabe aquela hora onde está tudo indo muito bem e depois vem uma reviravolta, quase uma revolta?
Então...mas nada disso abalou nossa relação, éramos sempre como um só...estávamos sempre juntos e nos sentíamos os melhores. Se não tiver emoção, uma mudança, um ajuste, um improviso, coisa de momento, a relação fica sem tempero. Eu sei no meu íntimo que houveram outras antes de mim, e que certamente haverão outras. Mas enquanto estivermos juntos, enquanto ele me tocar, sei que serei sempre a única. Aquela que fez alguma diferença, que aprendeu e ensinou o que podia pra ele.
À medida que nos aproximávamos mais, chegou o dia dele me apresentar a seus amigos. A aprovação dos companheiros, dos irmãos é sempre muito importante. Imagina se eles não gostam de mim? Qual terá sido o meu valor? Toda a dedicação, nossa aproximação... nossa intimidade naqueles momentos onde ele achava que eu não iria a lugar nenhum com ele... Teria sido em vão. Teria?
Mas seus amigos gostaram de mim! E adorei conhecer todos eles! Passamos a sair todos juntos, sempre nos encontrávamos, íamos a lugares juntos e era aquela festa! Por eu ser a mais nova entre eles, todos se divertiam quando me conheciam... Certo que nas primeiras vezes o público reagia com estranheza quando me ouvia, afinal, muita gente tem medo do novo...acha que não vai dar certo, que ele estava tomando direções erradas... Afinal, ele já tinha anos de estrada e eu estava só começando nessa vida. Mas eu não tinha medo. Estava ali com ele... com aquele toque e aquela pegada que só ele sabia ter, como me tocar nos momentos certos, mesmo sabendo que algumas vezes eu poderia oscilar, mudar...e ele já sabia onde eu ia mudar. E como cuidar de mim pra que não houvesse nenhum problema entre a gente, e também com sua banda.
O mundo tinha que saber que eu existia, e para tanto, ele moldou nossa relação. Deixando seu toque cada vez mais perfeito. Nossa estrutura inabalável. E principalmente por minhas palavras serem sempre as suas. Minhas ações eram um reflexo do seu pensamento mais profundo. Eu o conhecia por inteiro...sabia o que ele queria e o que ele pensava. Do mesmo jeito que todas as outras que vieram antes de mim. Mas nunca me importei, sempre soube do meu lugar e da minha importância. E, depois de tanto tempo nos conhecendo, era a hora de oficializar nossa relação. E como de costume, seus amigos, agora meus irmãos que já sabiam como lidar comigo, também estavam lá.
Eu tremia de medo... Será que é mesmo a hora? Estou realmente pronta pra isso? Cheia de
incertezas na minha cabecinha... Lembrando de todos os nossos momentos juntos... Como quando ele me tocou a primeira vez, senti como se eu estivesse nua, crua, ainda imatura por vezes. Mas agora, eu já havia me tornado adulta, cada vez mais produzida...ele sempre pensando nos mínimos detalhes...aqueles pequenos detalhes que sempre fazem a diferença.
Eis que entramos em estúdio. A banda toda, ele e seus amigos, me gravaram. Com afinco, dedicação por horas a fio. Trabalhando em mim, me deixando cada vez melhor. E algumas semanas depois eu já estava pronta para ser apresentada ao mundo todo. O lançamento do CD foi um sucesso! Todos queriam me ouvir...e eu sabia que era especial pra eles, pra mim, para seus fãs. Quando me encontrei naquele lugar, percebi que eu não era mais a primeira...haviam umas cinco ou seis antes de mim.
Quando eles saíram em turnê percebi qual era realmente meu lugar.
Quando eles gravaram um álbum duplo e ao vivo minha ficha caiu.
Eu era apenas mais uma. Um lado B melhorado. Fui apenas mais uma que nunca mais foi tocada do mesmo jeito quando nos conhecemos.
Sinto tanta falta daquelas mãos em mim, num quarto escuro madrugada adentro... me acariciando as formas, lapidando nota a nota... Sinto tanta falta de quando éramos só nós dois e seu violão.
Dedicada a todas as boas músicas gravadas, mas nunca tocadas ou lançadas num CD ao vivo.
 

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Espera.

Eu já nem sei
Quantos cigarros fumei
Quantos minutos eu contei

Até o telefone tocar.
Mas ele não toca.

E eu espero.
Como em toda minha vida.
Eu espero.
Há esperança, em meu coração...
Eu quero. Amor. Mais...

Eu quero.
Apagar o cigarro.
Esquecer da hora
Desligar o telefone

E quando eu olhar para o lado
Ali estará você.
Sem receio ou temor.
Ali estará aquela
Que hoje chamo de Amor.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cultura - Quem Sabe?

POSTAGEM EDITADA EM 05/05/2011

Me lembrei de uma frase que ouvi de uma pessoa há algum tempo. Não sei exatamente as palavras usadas, mas a mensagem era simples. Algo como: você não vai ter cultura pra conversar comigo se parar de estudar.

Quando me pego escrevendo no blog, para a revista que publico uma coluna, preparando aulas do curso que venho lecionando nos últimos meses, pesquisando ferramentas de trabalho... penso: "é..me formei e realmente eu emburreci." Não me lembro da minha cara quando ouvi o que ouvi, pois não pude ver minha expressão. Mas foi a gota d'água.

Não sou o melhor e nem o mais inteligente, e nem quero. Só quero ser reconhecido pela minha pessoa, pelo meu trabalho e por fazer todos que estão à minha volta felizes. Não pelo que sei, pelo que fui, por onde andei e nem com quem. Só quero que tudo dê certo... Para quem vive comigo.

Não sei o que levou àquela conversa antiga. Mas foi uma conversa dura e então desanimadora. Como gosto de pensar, tudo que é difícil, que parece ruim eu transformo em desafio. Talvez pra provar que a pessoa está errada e que eu posso ser cada vez melhor, crescer e aprender.

Mas sei o que me fez lembrar desse assunto. Uma conversa no caminho inverso. Sou adepto da filosofia de que a inteligência é um afrodisíaco, e que pessoas desafiadoras, críticas, sinceras e que não têm medo de dizer o que pensam ou sentem me incentivam a debater, a conversar e a explorar coisas que desconheço. E principalmente, coisas que eu posso não gostar. Anuência em excesso sim, isso emburrece uma pessoa.

Hoje eu sei que tenho todo esse poder de conversação numa única pessoa. E com um tempero especial: o fato dessa pessoa ser a minha namorada. Descobri que pra se amar não é preciso sermos iguais, termos grandes afinidades. É preciso se completar. É preciso balancear. E sorrir naturalmente, não por conivência. Ou por conveniência. Numa das passagens do texto que escrevi para o curta-metragem "Pra Eu Não Me Perder", levantei uma questão que hoje se provou real (e oposta ao que eu acreditava): "Devo acreditar nas almas gêmeas ou que os opostos se atraem?".
Os opostos se atraem, depois de muito tempo, até que sejam colocados próximos um ao outro. Não me importo se a Eliane gosta de pagode ou prefere filmes dublados e eu não. Tudo diferente respira o novo, tudo que é novo inspira o sentimento, e todo sentimento que é diferente amadurece e aproxima nossos mundos, que, por serem diferentes, acabam se complementando e fazendo da nossa vida, um lugarzinho melhor, com tudo que pudermos imaginar. E um sentimento intenso.

E a cultura? Como diz um canal de TV famoso: "A gente vê por aqui'.
E assim, eu desligo a TV, desligada do mundo.


terça-feira, 12 de abril de 2011

Sensações

Constantemente falo sobre amadurecimento, crescimento aqui no blog. Hoje eu me lembrei de uma música que foi crucial num momento muito importante da minha vida, creio que há mais de cinco anos atrás.

Sei que foi um período de uma mudança drástica a que me propus: de ir embora para Maringá, no Paraná, tentar minha vida como representante comercial... Que não durou nem um mês. De repente, eu seria responsável por mim, por uma casa, e talvez por uma segunda pessoa. Mas eu não era maduro o suficiente e nem tinha estrutura psicológica pra aguentar o tranco.

Resultado, de volta pra casa.

Hoje a história é outra, dei tantas guinadas na minha vida, sem contar o sem número de pessoas que trabalhei, conheci e vivi e as quais só tenho a agradecer pelo aprendizado. Hoje se a história é outra, seja com bons exemplos ou com exemplos de "o quê não fazer", aprendi o suficiente... e a música, melodia impecável, mas a letra é uma transição, um jovem amadurecendo e conversando com seu velho pai.

E como eu chorei quando vi o clipe, com a letra traduzida da primeira vez...

De Cat Stevens, Father & Son. Linda.

Letra original, letra traduzida e clipe em seguida.


Father And Son

It's not time to make a change
Just relax, take it easy
You're still young, that's your fault
There's so much you have to know
Find a girl, settle down
If you want, you can marry
Look at me, I am old
But I'm happy

I was once like you are now
And I know that it's not easy
To be calm when you've found
Something going on
But take your time, think a lot
I think of everything you've got
For you will still be here tomorrow
But your dreams may not

How can I try to explain
When I do he turns away again
And it's always been the same
Same old story
From the moment I could talk
I was ordered to listen
Now there's a way and I know
That I have to go away
I know I have to go

It's not time to make a change
Just sit down and take it slowly
You're still young that's your fault
There's so much you have to go through
Find a girl, settle down
If you want, you can marry
Look at me, I am old
But I'm happy

All the times that I've cried
Keeping all the things I knew inside
And it's hard, but it's harder
To ignore it
If they were right I'd agree
But it's them they know, not me
Now there's a way and I know
That i have to go away
I know I have to go

Pai e Filho

Não é tempo de mudar,
apenas relaxe, vá com calma
Você ainda é jovem, esse é seu problema,
há muita coisa que você tem que saber.
Encontre uma garota, se afirme,
se você quiser, pode casar
Olhe pra mim, estou velho,
mas sou feliz.

Eu já fui como você é agora,
e eu sei que não é fácil
ficar calmo quando você
percebeu algo acontecendo.
Mas vá com calma, pense muito (por quê?),
pense que tudo o que você já conseguiu
para você vai estar aqui amanhã,
mas seus sonhos talvez não.

Como eu poderia tentar explicar,
quando o faço ele ignora
É sempre a mesma coisa,
a mesma velha história.
No momento em que eu pude falar,
fui obrigado a ouvir.
Agora há um caminho, e eu sei
que eu tenho que ir embora,
eu sei que tenho que ir.

Não é tempo de mudar,
apenas sente-se, vá devagar,
você continua jovem, esse é o seu problema,
há muita coisa ainda que você tem que enfrentar.
Encontre uma garota, se afirme,
se quiser, você pode casar,
olhe pra mim, eu estou velho,
mas sou feliz.

Todas as vezes que eu chorei
Mantendo todas as coisas que eu sabia dentro
E é difícil, mas é mais difícil
Ignorá-la
Se eles estivessem certos, eu concordaria
Mas são eles que sabem, não sou eu
Agora há uma maneira
e eu sei Que eu tenho que ir embora
Eu sei que tenho que ir

terça-feira, 22 de março de 2011

A Felicidade dos Contos?

Você acredita em conto de fadas?
Eu acredito em mim e em você!
De conversar sem perguntar "por quê?"
E no final do dia com as pernas cansadas.


Não acredito na beleza dos contos.
E sim nas novidades do dia a dia
Com um dedo no queixo, um botão escrito "sorria!"
Histórias bonitinhas são para os tontos!


Nós somos os loucos
Amantes perfeitos como poucos
Nos tombos, fingimos não doer.
Fortes, não deixamos o sentimento morrer.


Nós somos a minoria
Perfeitos como poucos amantes
Que caem e não conseguem levantar.
Nós caímos, pra aprender juntos a voar.


abração
aureliomasr

domingo, 20 de março de 2011

Poema: "Alguém Que Conhecemos."

Há alguém que conhecemos.
Alguém que um dia nós conhecemos.
E que hoje, talvez não mais nos conheça.


Há alguém que um dia nos conheceu.
Alguém que um dia a gente esqueceu.
E que hoje, talvez nem eu conheça.


É sim, é verdade. 
O tempo passou e não deixou nem mais saudade.
O tempo passou com ele a cada dia, uma nova cidade.


É sim, é verdade.
O tempo passou, e todos crescemos.
Cada um a seu tempo, aprendemos.
Cada um à sua maneira, vivemos.


É triste a verdade, 
Que, sim, o tempo passou
Todos nós crescemos, 
Todos nós aprendemos.


E assim, é triste a verdade
Que há alguém que nós conhecemos, 
Que há muito não víamos,
E não mais veremos.


É triste, ou feliz a verdade,
Que o descanso e a cura se encontram na eternidade.

Em homenagem à alma e pessoa de Vanessa Nami Belluco Munacata. Que ela descanse em paz e que sua família e viúvo encontrem forças para superar sua ausência.

aureliomasr

quinta-feira, 3 de março de 2011

Manifestações Descontinuadas - Indicador Direito.

Em tempos de redes sociais, pode até parecer exagero dizer que quem não tem um orkut não existe. Mas não é bem assim. Algumas comunidades bem nomeadas como "Pq me add se não me cumprimenta na rua?" são óbvias. Qto mais amigos no Orkut ou Facebook, significa ser mais popular.  Ou não, já que muitas pessoas as vezes nos adicionam (ou nós adicionamos) só por "saber quem é".

Mas as redes sociais também deixam a gente preguiçoso. Especialmente o Facebook. Por exemplo: faço uma postagem aqui no Blog, e logo abaixo tem um link pra divulgar no Face. Só com um clique. Feito isso, quem vir a postagem, não vai mais comentar. Simplesmente vai clicar em "curtir". "Fulano e mais 3 pessoas curtiram isso." E daí??? Qual sua opinião, gostou, ótimo, mas manifeste-se. O mesmo acontece no Twitter. Gostou? Dá RT. Fácil? Aumenta os acessos no blog, ótimo! Mas e a discussão, os comentários... é tudo muito fácil, e essa "praticidade" que as redes e a internet nos oferecem, se não for usada com moderação emburrece os usuários e nos deixa cada vez mais dependentes de uma única parte do nosso corpo: O dedo indicador da mão direita.

Se curtiu, diga o motivo. Se deu RT, elogie e agradeça. Use os outros nove dedos!

Pensem nisso.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Herança dos Mamonas Assassinas

Há 15 anos os Mamonas Assassinas morriam em um acidente de avião. Uma tragédia que chocou o Brasil, pois a banda estava no início da carreira, com apenas um álbum lançado, várias músicas tocando em todas as rádios e fazendo a cabeça da moçada da época. Lembro muito bem que ganhei de presente de Dia das Crianças no ano anterior o LP dos Mamonas. Nem tínhamos CD player em casa ainda. Ouvia direto, a banda fez um puta sucesso.

Naquela época, eu, ainda pré-adolescente gostava de assistir a um programa de alto nível cultural e educativo, em especial um quadro chamado Banheira do Gugu... onde eu ficava esperando o biquíni das modelos caírem pra elas ficarem com os peitos de fora. É verdade, e daí? (Eu já assisti Gugu, Faustão e novela. Não assisto mais..e vocês burros que assistem BBB?)

No entanto, num domingo, liguei a TV e o programa estava num clima mórbido, e custei a entender o que se passava. Foi uma das poucas vezes que senti na pele o significado da expressão "incrédulo diante da situação". Na minha cabeça ainda um tanto quanto infantil, eu imaginava que os Mamonas sairiam pulando de dentro do carro do IML com o álbum novo deles nas mãos. Até hoje não entendi o que me levou a pensar nisso.

Hoje, já mais consciente em termos culturais digo: "Mamonas é legal." Dá pra fazer bagunça numa festa? Dá. Dá pra tirar onda com um amigo cantando Robocop Gay? Dá. Melodica e musicalmente falando, o álbum deles é uma verdadeira aula de técnica instrumental, analisando as diversas abordagens de estilos que eles executam quase à perfeição. Do heavy metal de Bois Don't Cry ao pagode numa música que me falha o nome agora.

Mas pra mim para por aí. Principalmente por me incomodar o fato de sempre ler ou ouvir comentários de que "os Mamonas revolucionaram o cenário musical brasileiro". Eu me revolto pois ninguém analisa com calma o contexto musical brasileiro - não só do Rock - em "AM/DM" (Antes dos Mamonas/Depois dos Mamonas). Na minha opinião, depois deles piorou tudo. Eu não quero ser demagogo ou hipócrita, até porque vou criticar bandas que eu curto de alguma forma. mas, depois dos Mamonas a banalização musical foi geral, no rock veio o Raimundos escrachando com letras sobre sexo e drogas, depois o Planet Hemp levantando a bandeira da legalização da maconha, sem contar que anida tinha o Falcão e o Tiririca... Do outro lado, no samba/pagode/axé veio a bundalização da música...tchan, boquinha da garrafa, dança do maxixe...tudo com uma conotação putamente sexual. E esse escracho, as mensagens sensuais implícitas porém quase explícitas nas letras partiram de onde? Dos Mamonas. Se houve mais alguém, eu não sei, mas eles estavam na linha de frente.

Nem preciso falar do contexto atual da música brasileira: funk de favela financiando o tráfico e a prostituição e rock colorido sem sentimento, sem pegada e sem uma mensagem coerente. 

Onde estão os músicos de verdade? Aqueles que têm uma mensagem coerente, qualidade musical e sim, que deveriam capitanear uma nova revolução musical no país e lembrar os bons momentos da música brasileira da MPB da década de 70, o rock dos anos 80? Estes, somos nós. Enfiados numa garagem, ensaiando fim de semana após fim de semana e desmotivados com o panorama musical do nosso país, que, graças à revolução mamonística só fez emburrecer culturalmente nossa população. 

aureliomasr

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Indo Pela Contramão.

Há uma semana mais ou menos o mundo foi surpreendido com The King Of Limbs, e mais uma revolução causada pelo Radiohead nesse novo álbum. Tanto em termos de marketing, como da forma nada usual de lançamento, com um dia de antecedência, venda on-line e com entrega prevista para maio, num pacote cheio de brindes, e itens de coleção para os aficcionados pela banda. 

E a música?

Bom, no melhor estilo Radiohead, o que virá num novo álbum é imprevisível. Não é In Rainbows, não é OK Computer, mas tem vestígios de Kid A. Como o Rodrigo bem definiu, faltam músicas estilo "bandinha" (voz-guitarra-baixo-bateria), sendo então The King Of Limbs um álbum essencialmente eletrônico que remete mais à carreira solo de Thom Yorke do que Radiohead em si. Há sim canções como Give Up The Ghost que apresenta um violão suave e a voz de Thom numa de suas melhores performances. Não é um álbum fácil e nem cativante, que você vá gostar de imediato. Tem que ser escutado, digerido e compreendido. É música para poucos. E ponto.

No entanto, sempre tem um crítico engraçadinho que pergunta: "Mas esse é o futuro do rock?". A verdade é que tem tanto rock ruim por aí afora que questionar a qualidade do material do Radiohead é heresia. Mas se eles querem "rock de verdade", o rock do futuro com timbres do passado eu poderia citar o lançamento do The Strokes, mas acabei de ouvir The King Of Limbs e agora estou ouvindo "Different Gear, Still Speeding" do Beady Eye. 

Sim, Beady Eye. O Oasis sem Noel Gallagher. Com a mesma formação da última turnê - e que passou por aqui ano retrasado e eu não fui - o Beady Eye mostra um som "novo". Como? Composições novas, mas visual dos singles e álbum, material de publicidade como álbuns da década de 50. Assim como a sonoridade de algumas músicas, carregadas de eco (chegando até a embolar o áudio). No álbum, a voz de Liam está muito melhor que nas gravações do Oasis, MAS, ao vivo quero ver se vai conseguir manter o timbre. É um CD muito bom mesmo, rock balada, rock n roll, uma pegada blues aqui e ali, um quase My Generation do The Who na faixa "Beatles and Stones". Esse já é um álbum que dá pra ouvir e gostar de primeira. O que não é um bom sinal, pois aí não teremos curiosidade de revirá-lo e descobrir alguma pérola que valha a pena dizer: "Essa música é do caralho!"

É de se pensar, que enquanto Radiohead planejava outra revolução revirando seus notebooks, sintetizadores, teclados e outros, logo ali na esquina (ou no pub) mais próxima, o Beady Eye velejava em mares lisérgicos com órgãos Farfisa, baixo e guitarras Rickenbacker e tentando fazer algo que supere o Oasis, e os aproxime de lendas da década de 60.

Então, como é normal nestas postagens, vou deixar o clipe do novo single do Radiohead, Lotus Flower e "Four Letter Word" do Beady Eye. Nem dá pra comparar, por serem totalmente diferentes. E lembrando que ambas as bandas (no caso, Oasis, não Beady Eye) capitanearam a revolução de 1995 do Britpop ao lado de Blur, The Verve e outras e ver como elas podem mudar e amadurecer.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dois Segundos

Uns dias atrás lembrei deste poema que escrevi em função de uma fatalidade que ocorrera aqui na minha cidade, creio que em 2006. O caso foi um acidente de moto, que se chocou de frente com um ônibus circular, de manhã cedo enquanto a vítima ia para o trabalho. Não sei realmente as circunstâncias, se foi imprudência ou não.


Fiz esse poema assim que sentei na minha mesa de trabalho, pois o rapaz trabalhava na mesma empresa, mas em outro setor, e na verdade, eu não o conhecia, não tinha ligação com ele. O que passou pela minha cabeça ao escrever foi visualizar o instante exato do choque, da percepção do risco e o fim de tudo em dois segundos.



Dois Segundos

Em dois segundos vejo tudo
Nestes dois segundos não sinto nada
Além de alívio aparente
Um choque, uma dor rápida
Passageira, tudo apaga

Com dois segundos, um olhar
Muda e não diz mais nada
Muito ou pouco, profundamente
Acima do bem e do mal
E os olhos fecham

A vida em movimento
Deseja profunda e superficial
Ser considerada essência
Não apenas obedecer
Sim, muito mais, respeitar

Apesar da morbidez do primeiro post dessa semana, estamos todos bem por aqui!
Boa semana a meus leitores invisíveis!

abraços
aureliomasr

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pra Falar de Amor, Tem Que Ser Verdade.

Existem manifestações internas, sensações que realmente não dão pra ser descritas. O engraçado é quando a gente encontra a tradução disso através das palavras de outra pessoa, de uma música e que à primeira audição nos deixa impotentes, pasmos ao perceber que "é isso que eu queria dizer... é isso o que está acontecendo". 

Hoje, que me desculpe o Rodrigo, meu velho amigo-pinga (quanto mais velha nossa amizade, melhor ela fica) vou abrir uma exceção e dizer que depois de muito tempo me sinto bem, feliz, respeitado e também, me sinto amado. 

Rodrigo nossa amizade está aí desde 1988/1989, há 23 anos mais ou menos... E há 20 anos nascia a Eliane, a mulher que hoje me faz feliz! Há diferença de idade, sim, existe e por mais esse motivo, quando não encontrei as palavras que eu queria dizer para ela há cerca de um mês atrás, elas eram cantadas pelo Tianastácia... 


Em Primeiro Lugar, Amor (Tianastácia)

Quando vejo seu sorriso
Quando vejo seu sorriso
Lindo, de um jeito que, juro
Eu não entendo, eu não entendo
Como é que pode uma menina
Me fazer tremer e só falar bobagens

Quando vejo seu sorriso
Quando vejo seu sorriso
Lindo, de um jeito que, juro
Eu não entendo, eu não entendo

Nos teus olhos eu me encontro, é como ver o mar
Em cada esquina eu te vejo
O que você provoca em mim eu nem sei falar
O que eu sinto com seu beijo

É o que eu canto
Menina
Te quero tanto...

Tudo começou por acaso, numa foto que até hoje eu não vi, e nem ela... Peças vieram se encaixando, outras se soltando e o tempo nos aproximando e ensinando a olharmos um para o outro e sentir que não era só mais uma pessoa na vida de cada um. Existia algo acontecendo. E hoje estamos aí. Desde o dia 20/06/2010 (sendo que no dia 15 eu já estava a querendo...). Tivemos sim uma pausa, cometemos nossos erros, e foram fatos que serviram como prova de que hoje nós somos um do outro, e deixando aquilo de ruim que passamos por um momento pra poder hoje seguir viagem até onde o que sentimos nos levar.

Há algum tempo, quando ainda estava a conhecendo, ela fora citada no post "Quem Está Na Sua Frente?" no trecho onde afirmo "Recentemente, desabafei com uma pessoa sobre as preocupações latentes que expus no texto Soy, publicado há um mês. E me surpreendeu o fato de que tudo que essa pessoa me disse fez todo sentido: "Você diz que está sem grana e ainda tá dando jeito de gastar mais? Sossega!", "Isso é fase, logo melhora."". Mostrando uma atitude oposta àquela que eu tinha em mente, ou ao que eu vinha executando, e que aos poucos foi me cativando, me conquistando... 

Carinha de menina e jeito de mulher, ela é a praga que eu amo! 




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Músicas Sagradas - Versões, Releituras e Covers

Há algum tempo eu postei aqui no blog sobre as versões da música do Soda Stereo, De Musica Ligera feitas tanto pelo Paralamas quanto pelo Capital inicial, e quem não lembra ou não leu, pode ler clicando aqui. Para alguns fãs de boa música - como eu - existem algumas músicas, especialmente das bandas que sou fã até o osso, existem alguns crimes cometidos por aí, e outras que valem a pena serem ouvidas.

Vou tirar como exemplo a música mais conhecida do Pink Floyd: Another Brick In The Wall, Part 2. 

Composta em 1979 como parte do álbum The Wall e censurada em diversos países como a África do Sul por ter se transformado num hino de rebeldia (sobrepondo inclusive o objetivo e os efeitos que o punk objetivava em 1977/78), a canção ABITW2 (Another Brick In The Wall, Part 2) ganhou ao longo dos anos diversas versões, covers e releituras - inclusive uma versão infame do Falcão cantando "Atirei o pau no gato... mas o gato não morreu. Ei! Chica! Deixe o gato em paz!"

Essa a gente pula, por se tratar de uma sátira.

Há alguns anos atrás, surgiu - e bombou em várias baladas - uma versão eletrônica de ABITW2. Como eu sou muito radical, e fã do Pink Floyd, eu saio da pista nessa hora, por julgar tratar-se de um abuso e estar desvirtuando a música de seu objetivo principal e excluindo-a de seu conceito inicial: de abrir a mente dos ouvintes através da mensagem de sua letra, que acaba sendo banalizada numa balada onde todos cantam coisas sem sentido. Talvez a mensagem funcione de uma forma subliminar, mas Roger Waters deve ter quebrado vários dos seus óculos de aviador ouvindo esta versão.

No entanto, três versões pouco conhecidas, na minha opinião, têm seu mérito, cada qual dentro de uma esfera diferente. A primeira versão está na trilha sonora do filme Class of  '99, no Brasil rebatizado como "Prova Final". É um filme de terror adolescente, estilo Pânico ou Eu Sei o Que Vocês Fizeram No Verão Passado. A banda conta com Layne Stanley do Alice In Chains no vocal e Tom Morello do Rage Against The Machine na guitarra. E é uma versão mais pesada, com arranjos diferentes, mas mantendo a estrutura básica da música. É uma das minhas preferidas.


A outra versão é uma que descobri por acaso, tocando em ritmo country, e ficou MUITO DOIDA! Até mesmo pela interpretação do vocalista e os instrumentos utilizados. Está num cd tributo ao Pink Floyd com versões country e bluegrass. A banda chama-se Luther Wright and The Wrongs.


E a última versão é de 2010 de uma dupla iraniana chamada Blurred Vision e teve o aval de Roger Waters para lancá-la, pois o intuito deles era protestar contra a tirania dos aiatolás, tanto que alteraram o refrão para "Hey, Ayatolah, leave us kids alone!" A canção na interpretação deles trouxe de volta o conceito inicial de protestar, ao invés de alienar como a versão eletrônica e patética. Além da interpretação deles ser muito fora da versão comum, com uma pegada muito diferente.


Por ora, é só isso mesmo, mais como curiosidade do que como crítica. Caso conheçam alguma outra versão, mandem nos comments!

Abraços aos leitores invisíveis.
aureliomasr

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Seguir Viagem

Começando o segundo mês de 2011, eu admito que entrei o ano me sentindo inseguro em alguns aspectos, o que me fez analisar minhas projeções com calma após um mês de dezembro agitado. E não devido somente às festas de fim de ano. Foram muitos eventos cobertos... muito trabalho! (E que agora tenho que continuar editando pra entregar). Ao passo que também foi um período muito intenso emocionalmente, e que me fez experimentar uma sensação diferente, a de gostar mas não estar junto. E às vezes ficar, e continuar sem estar juntos. E então conversar, pensar e hoje, ter certeza que entre as mudanças de 2011, o retorno do namoro com a Eliane se mostrou a mais valiosa de todas as situações vividas até então. 

No aspecto profissional, achei que talvez fosse fogo de palha, mas 2011 está mostrando que as oportunidades poderão aparecer mais... E talvez seja o ano do reconhecimento do meu trabalho. Torçamos para isso, sempre com respeito e humildade. 

E então, o que fazer agora?

Entre tantas coisas, uma satisfação e felicidade latente, pessoal e quase completa, novamente, as oportunidades das quais eu insistia em dizer que deveria abrir mão em Pra Eu Não Me Perder agora me fazem pensar cada vez mais. Como pessoa, sei da minha capacidade pessoal, profissional e intelectual. O desafio de 2011 foi feito: dar aulas. E é isso mesmo, fui contratado para dar aulas num curso profissionalizante de Secretariado Executivo, e isso é excelente pra mim. A maior experiência profissional minha foi formada na Marluvas e as práticas comerciais, administrativas e contábeis vem sendo implementadas na minha empresa hoje. E agora, eu tenho a possibilidade de repassar em forma de teoria um pouco da minha prática! Fiquei bem satisfeito com a oportunidade - e com o fato de que minha sogra será uma das minhas alunas! Assim, ela vai conhecer um lado meu que pouca gente que convivo hoje conhece. O profissional serio e adulto! 

Em outra ocasião, fui contratado para escrever como jornalista numa revista mensal sobre eventos da região!

Em outra ponta, meu projeto maior para 2011 é tentar realizar meu sonho de publicar meu livro com poemas ainda guardados, bem como de alguns textos e poemas que estão neste blog. Cada um ilustrado com uma foto de uma árvore seca diferente. Em função de uma conversa que tive há mais tempo com o Rodrigo, vejo que agora ele tem razão.

A conversa ocorreu à época do meu aniversário ano passado, quando fiz 27 anos. E eu tenho medo desse número, pois todo mundo do meio o rock sabe das mortes enigmáticas de artistas com esta idade - e sim, eu me considero uma pessoa do meio das artes. De acordo com o Rodrigo, aos 27 anos é quando a pessoa faz seu melhor trabalho, deixa sua marca definitiva e dali em diante a ele só resta seguir viagem. 

Seguir viagem rumo ao crescimento, ou a fracasso. 

Se 2010 foi um ano quase sabático, de mudanças, aprendizado, descobertas e "amadurescência". O ano de 2011 será das conquistas e confirmações. 

Um abraço aos meus leitores invisíveis
aureliomasr

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

De Repente A Gente Acha...

Mexendo em alguns papeis antigos, rascunhos de letras de música e poesias, achei este que talvez seja um determinante no meu conformismo após me mudar pra Dores. Algumas pessoas sabem o quanto eu relutei pra me mudar pra cá, e o quanto eu não queria abrir mão das "grandes cidades" por onde passei.

Lá se vão 9 anos que moro aqui, e o resultado é que pra mim vem sendo uma experiência onde amadureci em dois anos o que eu nunca amadureceria em 5 da forma como eu vivia. Um amigo meu bem me define como "menino de apartamento". Hoje não sei como seria minha vida se não tivesse voltado pra Dores, e hoje sei que entre toneladas de informações, aprendizado e amizades e alguns erros no caminho, sei que está valendo a pena - desconsiderando os inúmeros defeitos e circunstâncias que em alguns momentos me fazem desgostar de estar aqui.

Então, esse poema, inacabado, mas visceral, é um mea-culpa, onde aceito minha condição de "estar" e de mudar.

Depois de tanto tempo,
De velhas novidades.
Pessoas e cidades
Em poucos momentos
Aprendi a olhar diferente
Pra voltar ao que vivi,
E ao que não sabia existir.

Entre tanta gente indiferente,
Aprendo a viver diferente
A esquecer do ausente
E agradecer o presente.

Na mesma folha, um outro rascunho que certamente é sobre os dias que eu e o Carlos passávamos a tocar violão na rua da nossa casa, com inúmeras referências a letras que escrevemos durante os tempos de Hipnose.

Já tenho meu baixo e meu violão.
Agora só me falta uma canção.
A mesma que cantei com você,
A mesma que nos fez crescer.

Já tenho pensamento no coração
E saudade do meu irmão,
Sentado na rua, debaixo de chuva.
Incerto do amanhã, sonhando com a Lua.

Ainda ouço a mesma versão
De uma música triste no verão
Quando cantávamos que nada se perdeu,
Ou se quem se perdeu fui eu.

Eu não queria que fosse assim,
Talvez pudesse ter feito tudo melhorar.
Mas se houve algo sem fim,
Que seja bom e me faça chorar.

Um abraço a todos.
aureliomasr

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pessoas

Tanto postei aqui em 2010, aventuras e desventuras. Lugares que fui, coisas que fiz, situações que vivi e vitórias que conquistei. Mas tantas pessoas passaram na minha vida neste último ano que não posso deixar de comentar aqui o quanto aprendi conhecendo e vivendo com cada um dos amigos que fiz nos trilhos de 2010.

A obsessão por contatos com bandas para desenvolver meu trabalho me fez ir a diversos festivais de metal, a princípio com a Left Behind e depois com a Sacrament, e acabei conhecendo muita gente insana e bacana, além dos membros e amigos das bandas em si. Fiz alguns contatos, mas que renderam poucos frutos até então. Gastei um inglês bêbado em São Paulo no mês de setembro com o pessoal da banda Man of Kin, da Inglaterra, para a qual a Left Behind abriu o show, em uma das viagens mais divertidas que fiz com estes amigos.

A cabeça enfiada no meio musical me fez conhecer muita gente diferente no conservatório, crianças, adultos, velhos e adolescentes com a voz em transição. Em Dores, a cabeça entre câmeras e contrabaixo e o trabalho da Secretaria de Cultura ampliou ainda mais minha rede de contatos e pessoas que respeito e cujo trabalho eu admiro.

Houveram também momentos românticos, uns rápidos, outros momentâneos e outros mais duradouros, entre pausas de semi-breve ou o período de vestibular. Talvez esta tenha sido a maior lição que aprendi em 2010. A me relacionar melhor com as mulheres, não ser alguém que só quer delas a carne ou momentos que serão momentos no passado. A gente às vezes se expõe a situações, se arrisca, e acha que está certo.

Mas eu pensei. E muito. Passei por cima do meu orgulho, de um espelho e das coincidências que a vida nos apresenta. Pensei na minha integridade. A gente acerta errando e erra acertando. Talvez meu maior acerto foi enfrentar o medo de tomar uma decisão que à primeira análise poderia ser a errada.

Fechei 2010 pensando. Refletindo com apenas duas metas para 2011. E comecei 2011 colocando a cabeça e o coração no lugar.

aureliomasr

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Cotovelos Na Janela

Pra quem tem orkut, uma comunidade que resume bem o que quero dizer neste texto é "O bom de cidade pequena é que se eu não sei o que estou fazendo, alguém sabe". Ou coisa assim.

Um exemplo fácil é a rua da minha casa. De uma esquina a outra, até chegar na minha casa o que mais vejo são cotovelos na janela. Pessoas debruçadas na janela, olhando o movimento. Lembro do meu avô fazer isso também, nessa mesma casa, nessa mesma rua. Mas isso é durante o dia, algumas dessas pessoas são aposentadas e realmente não têm o que fazer (ou não querem fazer). Porém, o que mais me irrita é quando eu chego em casa, alta madrugada, 3, 4 ou 5 da manhã, entrando de carro pelo portão da garagem, ou descalço pra não chamar a atenção por - talvez - estar acompanhado de alguém, é só colocar a chave no portão e virá-la que escuto umas duas janelas abrindo. E me olhando. Dependendo da quantidade de álcool no meu sangue eu cumprimento a pessoa: "Opa! Tudo bem fulano? Posso te ajudar? Tá acordado a essa hora ainda..."

Isso não é de hoje. Há mais de ano haviam pessoas que davam notícias minha para uma determinada pessoa, informando que horas da noite (ou madrugada) eu cheguei em casa, com quem eu estava e que horas saí para levar essa pessoa embora. Honestamente, acho que rolava uma grana boa pra um inútil pagar outro inútil pra ficar de guarda a madrugada inteira cuidando da minha casa. Como se não bastasse, até no portão dos fundos, que é meio que uma "passagem secreta" pra minha casa, tem gente tomando conta. É incrível o fato de que a cidade aqui é movida por gente à toa, cujo único trabalho é saber da vida dos outros, e muitas vezes, saber uma verdade absurdamente aumentada. Só da minha parte posso dizer que segundo a "voz do povo", eu fui demitido do meu trabalho anterior por incompetência e por ter dado um prejuízo de R$ 1 milhão. Eu estive quase colando na porta da minha casa a documentação da minha negociação para saída por livre e espontânea vontade. "A quem interessar possa". 

Não reclamo por liberdade, mas qual o prazer que as pessoas sentem em tomar conta da vida dos outros? Eu mesmo estou cagando e andando pra vida dos outros, exceto dos meus amigos e família (sim, nessa ordem). Mas me irrita muito isso. 

E agora, como todo começo de ano começa aquela porcaria de BBB. Pelo menos o povo agora toma conta de umas vidas diferentes. Mas acho que não é tão interessante quanto a vida real. A vida que aqueles que tomam conta da dos outros não têm, nunca tiveram e nunca vão ter. A vida daqueles que têm calos nas mãos e ideias na cabeça, enquanto para eles, restam somente calos nos cotovelos por ficar tanto tempo na janela.

Esperto era meu avô, que colocava uma almofadinha sob seus cotovelos.