quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Moeda Tem Dois Lados e a Gaveta Um Fundo.

Final de mês todo mundo normalmente está duro. Duro de dinheiro ou de tesão. Assim estava um dia, bem no último dia do mês de março de 2010. Este foi marcado por um conselho que, pra ele, a princípio pareceu fútil, pois horóscopo é conveniente com seu humor. 

E ele estava num péssimo dia.

E seu horóscopo on-line, via Folha de S. Paulo dizia: 

"Quer tal encerrar março com uma quebra na rotina? Os astros conspiram pra que você mude um pouco hoje, faça algo novo, imprevisto, que não faz parte da programação. Aprender a ousar, a ser diferente, a fazer de outro jeito são alternativas boas pra você ir ainda mais longe."

Ele ficou intrigado com qual seria o ritual. Se deitar no escuro ouvindo Radiohead? Acender seu narguilé e assistir aos DVD's do Woodstock que ganhara de presente de aniversário no ano passado? Ver Friends? Navegar nas possibilidades do MSN? Imprevisto? Qual imprevisto?

Respostas erradas. Embora ele tenha assistido Friends e feito contatos no MSN.

Logo no início da noite, ele recebeu um email onde era friamente informado que em alguns dias receberia uma encomenda. Uma devolução na verdade. Chinelos, toalha, cobertor, CDs, um certificado de faculdade. Coisas que se esquece, ou que pra ele não são tão importantes quanto julgou que fosse para quem os devolveu. Foi aí que seu dia terminou e com ele, tudo que acontecera. 

Eis o imprevisto previsto pelo horóscopo, conivente com a situação e incoveniente com o humor dele.

Então, face ao imprevisto. Ele ousou. Em resposta ao email, não desejou mal, não é do seu feitio. Apenas desejou ao remetente e a toda raça humana (em destaque, ele excluiu daí, os mortos, que nada têm a ver com isso) somente "o básico". E a si mesmo, desejou o melhor. Enquanto ele delineava o email com palavras que permeavam o limite da sua paciência e outras que apaziguavam e ao mesmo tempo atenuavam suas impressões ou falta delas. Ele estendeu a mão e abriu uma gaveta. Ironicamente, tudo ainda estava ali. Até certa hora, por fé, esperança. Depois, por puro esquecimento. As marcas, os cheiros, palavras e imagens escondiam o fundo daquela gaveta que outrora guardara remédios, cigarros, porta-copos e afins. 

Com a angústia de meias palavras frias e outras gélidas, seu ritual foi encontrar o fundo daquela gaveta. E sim, ele limpou a gaveta. Tirou tudo que não lhe interessava mais, deixando apenas o necessário para homens como ele: óleo de massagem, kama sutra e alguns jogos. 

E ali estava o fundo da gaveta, marrom, quase negro.Mas a gaveta enfim, estava vazia. Onde restaram elementos que somente preenchem o vazio de uma vida vazia. Contraditório...

O que ele tirou simplesmente fez parte do que ele luta para superar. Ou não mais irá se preocupar. Dando continuidade ao ritual, ele analisou minuciosamente cada elemento que ali estava, encaixando-o em seu devido espaço no tempo, em sua devida cronologia sentimental e tudo que ali estava envolvido. Palavras ousadas. Ora frias. Um lado da moeda até então incompreendido por ele. Todas as respostas para todas as perguntas, estavam ali, do seu lado o tempo todo. Era só esticar o braço. 

No entanto, ele fechou os olhos, o corpo, a alma e o coração. E ficou do outro lado da moeda. 
Ele se fechou, para nunca mais voltar.

Hoje embora um tanto quanto tarde, eu consegui entender a presença dela na minha vida, ao me acompanhar e lutar junto comigo, face às minhas dificuldades e às quais eu simplesmente transferia a ela, enquanto ela queria me salvar. E assim, as duas faces da moeda nunca se olharam, e nunca ficaram no empate, um dos dois lados teria que levar vantagem.

Hoje embora um tanto quanto tarde, eu consegui entender que para esquecer, não importa quem tenha errado, é preciso um pouco de irritação. Um pouco de aversão. Esperar não deixa que ninguém esqueça do passado. 
E assim, eu pude ver novamente o fundo da minha gaveta, livre e incoerente.

Marco Aurelio.
aureliomasr.
Simplesmente, "ele".

Um comentário:

Unknown disse...

A ideia do texto daria uma boa musica. =D