sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Banco Vazio

Há uns bons 9 anos iniciei minha carreira de vestibulando. Morava em Guaratinguetá, interior de São Paulo e fui estudar no Anglo, numa sala com mais 144 desconhecidos. Outros 5 eu conhecia de vista. No entanto, em meio a essa multidão, todos os dias eu me sentia sozinho, desgarrado e a prova disso era analisar o mapa da sala.

Visualize um auditório, com três seções de cadeiras. Eu me sentava na coluna do meio, na cadeira da ponta do corredor, e ao meu lado esquerdo, mais umas dez cadeiras. Dia após dia estas cadeiras ficavam todas vazias. As pessoas, passavam, olhavam as cadeiras vazias, olhavam pra mim e continuavam a subir, afim de se sentar nas cadeiras mais ao fundo da sala. Ou simplesmente voltavam e se sentavam mais à frente.

Eu me sentia mal com aquilo. Mas com o tempo não mais me preocupei, afinal, sozinho eu estava, sozinho eu ficaria. Um ano depois eu estava em situação oposta. 9 anos depois, embora longe daquilo tudo, estou cercado por boas pessoas, ótimas pessoas e outras pessoas. Não me importo mais o quão longe ou perto elas estejam ou qual tipo de interesse elas têm em mim.

A mim, só importa fazer o bem a elas. Mesmo que eu me decepcione e elas não façam o mesmo por mim, ainda assim estarei fazendo o que achar melhor para aqueles que estão perto de mim.

Mas o banco ao lado, muitas vezes continua vazio e, esta semana observei no ônibus de estudantes que utilizo para ir ao conservatório que a situação se repetiu e, o banco a meu lado ficou vago. Usei-o para esticar minhas pernas, afinal num único banco vazio não caberiam meus amigos e amigas, não sentariam juntas as pessoas pelas quais tenho carinho. Nem mesmo as dez cadeiras de anos atrás, lá do cursinho comportariam os melhores, os bons e os "só" amigos. Devaneios à parte, me coloquei de volta no ônibus, cuja maioria de passageiros é nada mais que pré-vestibulandos, com a mesma faixa etária que eu me encontrava 9 anos atrás. E haviam pelo menos três pessoas com seus bancos ao lado vazios. Enquanto nos outros havia conversa risos, nos bancos solitários havia retração, fones de ouvido, cabeças baixas e olhares perdidos na água da chuva que escorria pelos vidros do ônibus. Por uma destas pessoas eu tenho uma certa afeição, converso constantemente, tenho como uma amizade próxima. E ela estava sozinha (sim, é uma mulher, mas não quer dizer que estou mal-intencionado). Fiquei observando os trejeitos, as expressões e praticamente senti que se eu (ou qualquer pessoa) sentasse ao lado dela não seria a melhor opção. Por quê?

Simplesmente por se sentar, a pessoa vai sorrir ao ver que alguém irá lhe fazer companhia. Mas e se ela não estivesse afim de companhia, ou poderia pensar "sentou aqui só porque estou só". Seria uma felicidade plástica, indiferente. Seria só um momento e talvez, um momento não fosse o suficiente... Talvez um oi não seja suficiente.

Eu precisaria de mais. Eu sozinho no meu banco de cursinho há 9 anos atrás precisava de amigos, de muitos amigos. Eu 9 anos depois não preciso de um banco vazio.

Tenho meus amigos e por estranho que pareça, meus melhores momentos acontecem quando estou sozinho tendo ideias.

Amo minha vida e meus amigos.
No entanto, me apaixono dia após dia pela solidão.

aureliomasr

2 comentários:

Letícia disse...

Minha melhor companhia sou eu mesma. E não é que eu seja individualista, tenho amigos, colegas, conhecidos. Mas sabe como é? Me entendo melhor do que ninguém. Vou arriscar dizer que pessoas como eu e vc não estão só; hoje, há muitos que também pensam assim. Dia desses, pra exemplificar, uma amiga minha contou, em tom de absurdo: "um dia, na escada rolante, um estranho ficou no mesmo degrau que eu estava!" É por aí.

aureliomasr disse...

Ótimo comentario sobre a escada rolante! hehehe... Mas eu tenho duas opiniões a meu respeito: 1. Eu me dou bem comigo msm, e resolvo meus problemas sozinho; 2. Se uma vez na vida eu ficasse preso num quarto comigo mesmo, eu ia pegar na porrada comigo!