quarta-feira, 2 de março de 2011

Herança dos Mamonas Assassinas

Há 15 anos os Mamonas Assassinas morriam em um acidente de avião. Uma tragédia que chocou o Brasil, pois a banda estava no início da carreira, com apenas um álbum lançado, várias músicas tocando em todas as rádios e fazendo a cabeça da moçada da época. Lembro muito bem que ganhei de presente de Dia das Crianças no ano anterior o LP dos Mamonas. Nem tínhamos CD player em casa ainda. Ouvia direto, a banda fez um puta sucesso.

Naquela época, eu, ainda pré-adolescente gostava de assistir a um programa de alto nível cultural e educativo, em especial um quadro chamado Banheira do Gugu... onde eu ficava esperando o biquíni das modelos caírem pra elas ficarem com os peitos de fora. É verdade, e daí? (Eu já assisti Gugu, Faustão e novela. Não assisto mais..e vocês burros que assistem BBB?)

No entanto, num domingo, liguei a TV e o programa estava num clima mórbido, e custei a entender o que se passava. Foi uma das poucas vezes que senti na pele o significado da expressão "incrédulo diante da situação". Na minha cabeça ainda um tanto quanto infantil, eu imaginava que os Mamonas sairiam pulando de dentro do carro do IML com o álbum novo deles nas mãos. Até hoje não entendi o que me levou a pensar nisso.

Hoje, já mais consciente em termos culturais digo: "Mamonas é legal." Dá pra fazer bagunça numa festa? Dá. Dá pra tirar onda com um amigo cantando Robocop Gay? Dá. Melodica e musicalmente falando, o álbum deles é uma verdadeira aula de técnica instrumental, analisando as diversas abordagens de estilos que eles executam quase à perfeição. Do heavy metal de Bois Don't Cry ao pagode numa música que me falha o nome agora.

Mas pra mim para por aí. Principalmente por me incomodar o fato de sempre ler ou ouvir comentários de que "os Mamonas revolucionaram o cenário musical brasileiro". Eu me revolto pois ninguém analisa com calma o contexto musical brasileiro - não só do Rock - em "AM/DM" (Antes dos Mamonas/Depois dos Mamonas). Na minha opinião, depois deles piorou tudo. Eu não quero ser demagogo ou hipócrita, até porque vou criticar bandas que eu curto de alguma forma. mas, depois dos Mamonas a banalização musical foi geral, no rock veio o Raimundos escrachando com letras sobre sexo e drogas, depois o Planet Hemp levantando a bandeira da legalização da maconha, sem contar que anida tinha o Falcão e o Tiririca... Do outro lado, no samba/pagode/axé veio a bundalização da música...tchan, boquinha da garrafa, dança do maxixe...tudo com uma conotação putamente sexual. E esse escracho, as mensagens sensuais implícitas porém quase explícitas nas letras partiram de onde? Dos Mamonas. Se houve mais alguém, eu não sei, mas eles estavam na linha de frente.

Nem preciso falar do contexto atual da música brasileira: funk de favela financiando o tráfico e a prostituição e rock colorido sem sentimento, sem pegada e sem uma mensagem coerente. 

Onde estão os músicos de verdade? Aqueles que têm uma mensagem coerente, qualidade musical e sim, que deveriam capitanear uma nova revolução musical no país e lembrar os bons momentos da música brasileira da MPB da década de 70, o rock dos anos 80? Estes, somos nós. Enfiados numa garagem, ensaiando fim de semana após fim de semana e desmotivados com o panorama musical do nosso país, que, graças à revolução mamonística só fez emburrecer culturalmente nossa população. 

aureliomasr

Um comentário:

Anônimo disse...

o heavy metal é "débil metal". é verdade cara, é difícil até entender como os mamonas mudaram intimamente o cenário musical porque todo mundo só consiguia ver a parte engraçada da coisa. acho que eles deixaram uma vazio que foi "tapado" com qualquer coisa que veio depois. o que veio depois e presta, é orfão do legado deles e daqueles que os seguiram.