sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quanto a gente vale? Quanto custa uma atitude?

Eu não sou do tipo de pessoa que se impressiona com facilidade, acho que tenho o estômago forte. Mas há certas situações que me fazem pensar quanto vale o ser humano, aquele que se acha um forte indestrutível. E quanto vale a humanidade que faz vista grossa para certas coisas. 

As usual, vou explicar. 

Em um espaço de tempo de duas semanas, que eu me lembre, me deparei com duas situações de auto-destruição, se assim podemos dizer. A primeira foi em Barbacena. Na situação, eu estava sentado num ponto de ônibus esperando para voltar pra casa e conversando com um conhecido que estuda comigo em São João del Rei no Conservatório de Música e que esperava pelo mesmo ônibus que eu iria pegar. Do nada, surge um homem, mancando e simplesmente deitou no chão, à nossa frente. Ele deitou, como se deita numa cama. Ele não caiu, nem tropeçou. Um momento de silêncio, eu e o Delmário nos olhamos sem entender nada daquilo. Ele então comentou: "É goró." E realmente, o cara exalava um odor etílico, como dizem os policiais. No ponto que estávamos, além de nós dois estavam mais umas 10 pessoas, e as pessoas olhavam aquilo como se fosse nada, algumas pessoas que transitavam pela calçada, pulavam por cima daquele corpo no chão. E eu, pensando o tempo todo "o que eu faço? O que eu faço?". Havia dentro de mim algo que me dizia, "Pô, dá uma mão pro cara, não custa nada... se ele não aceitar, pelo menos você tentou." 

Eu não tentei. Não tentei talvez por vergonha do que as outras pessoas poderiam pensar de mim. Não tentei talvez por preocupação em perder o ônibus. Eu só não fiz nada e fiquei com aquilo corroendo minha cabeça depois. Sempre tem alguém que comenta nessas horas... "O cara bebeu, tá cheio de problemas, tá afogando as mágoas no fundo do copo.". Mas eu acho que quem tem problemas são pessoas que, como eu, não agiram. Meu ônibus chegou, eu entrei, e o homem ficou lá, estendido no chão, debaixo de um sol escaldante.

Ontem, novamente. Eu estava em São João del Rei, pra cumprir uns compromissos profissionais, outro bêbado esticado na calçada. Dessa vez, as pessoas observavam de longe, da porta das lojas ali por perto. E eu fui um dos que passaram por cima sem tomar muito conhecimento do que estava se passando ali. Tudo bem que não dá pra salvar a pátria todo dia, e, eu estava sem almoço, precisando voltar pra casa e trabalhar.

Então, se pararmos pra pensar... nós só valemos aquilo que nos interessa. Em duas situações idênticas eu tive duas reações diferentes, pois, na primeira, foi diante de mim que tudo aconteceu. Na segunda, o cara já estava no chão e eu estava com pressa. Então, eu me tornei um daqueles transeuntes que vi em Barbacena, pulando por cima do bêbado no passeio. 

O que devemos fazer nessas horas? A mãe de uma grande amiga minha chama ela de "Madre Teresa de Calcutá", pois ela sempre ajuda seus amigos bêbados, reboca eles pra casa... Mas e aí? Não podemos simplesmente ajudar qualquer um ou DEVEMOS ajudar a todos em qualquer hora e qualquer lugar? Deveríamos, mas nem todos conseguem superar algumas barreiras como preconceito, pudor, orgulho e vergonha. 

Quem realmente vale alguma coisa são as pessoas que têm atitude, pois nós, quando não fazemos nada, também não valemos nada. Cada um tem seus problemas, suas fraquezas. Mas fracos são aqueles que conseguem ver isso tudo e não enxergar uma realidade triste e a falta de compaixão em si mesmo, e fazer alguma coisa. 

aureliomasr

Um comentário:

Anônimo disse...

Marco, sobre essa questão de fazer ou não fazer alguma coisa diante de uma situação dessas, eu lhe digo algumas coisas, com conhecimento de causa:

1) do ponto de vista da pessoa que está ali sofrendo. Querendo ou não, quando a pessoa faz isso, é porque precisa de alguém que perceba a situação dela. Ela precisa de uma "plateia". Então, quanto mais se olha, mais essa pessoas faz a sua cena. Daí também, as pessoas ignorem, fingirem que não vêem. Mas a gente faz isso incosncientemente porque todo mundo tem seus problemas, e o problema de todo mundo é, forçosamente, sempre o maior.

2) do ponto de vista de quem ve a situação. Seria muito louvável que cauda um de nós tivessa a atitude de ser caridoso e se prestar a ouvir, escutar o que aquela pessoa tem a dizer. Mas imagine o que aconteceria se fizéssemos isso com várias pessoas alcoolizadas. Você acha que ajudaria em alguma coisa? Claro que não! No máximo, você ficaria profundamente deprimido (e um pouco louco também). A lógica do sóbrio, geralmente, não é compatível com a do alcoolizado (ou "alterado").

Visto isso, como proceder para evitar esta inexorabilidade social total? Primeiro, acho que a gente deve cobrar os políticos, as prefeituras, os órgãos de assistência social etc. Você paga impostos para quê mesmo?! Segundo, aja local e atue globalmente, dê o exemplo. Se vc acha que pode ajudar alguém, procure a assistência social da sua cidade e procure orientação sobre como fazer para ajudar as pessoas que não têm para onde ir ou que precisam de ajuda.

Problemas todo mundo tem. Se for dinheiro, dá pra desdobrar, se for comida, idem. Embora em nosso país a gente feche os olhos, tape os ouvidos e finge que os problemas alheios não existem, a gente tem o dever de cobrar e, principalmente agir. O pior cego é aquele que não quer ver. Se vc faz alguma coisa, mesmo que indiretamente, pode ter certeza que sua ação vai surtir efeito em algo ou alguém. Pensar todo mundo pensa, e agir?