sexta-feira, 5 de março de 2010

Come again?

Algumas pessoas têm ouvido seletivo, escutam somente o que lhes interessa. Outras, veem o que convém. Mas em certas situações, digamos, inusitadas, alguns de nosso sentidos ficam mais aguçados.

Como de costume, explico.

Ontem fui ao velório do avô de uma "amiga muito próxima", em Barroso. Eu não conhecia ninguém, a não ser ela e mais ou menos, a mãe dela. Chegando lá, totalmente estranho a todos e todos estranhos a mim, não reparei em detalhes, em rostos, não guardei nomes, não senti cheiros ou coisa do tipo. Mas eu simplesmente não escutava. Em alguns momentos, quando alguém se dirigia a mim, eu ouvia, mas não escutava. Não compreendia. Eu ouvia os sons, algumas palavras, mas dificilmente os decifrava, eu assimilava partes das frases. Mas o que faz isso acontecer?

Eu realmente estava me sentindo um estranho num ninho, sem lugar. Mas eu tinha que estar ali, era um desejo da minha amiga.

E enquanto eu ia me estabelecendo, sentei na sala da casa com alguns parentes dela que nem imagino os nomes, mesmo que eles tenham me dito. Observei as pessoas, suas expressões, trejeitos, vi a TV ligada passando "A Praça É Nossa", mas eu não entendia nada que era falado.

Acho que simplesmente, eu estava ali realmente em prol de uma pessoa, em solidariedade, por saber que não é um momento fácil... e a dificuldade era minha em tentar me situar num lugar totalmente novo e de uma forma, vamos dizer, completamente incomum.

E descobrir que embora eu tenha muita facilidade em me relacionar com as pessoas, cada vez mais eu descubro que numa situação como essa, a morte de alguém, eu não sei como agir com as pessoas. Eu simplesmente tive vergonha de mim mesmo a maior parte do tempo.

Força a todos.

Abraços aos leitores invisiveis,
aureliomasr

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